A evolução do Steel Frame no Brasil: de alternativa a tendência mainstream

O zumbido das serras circulares e o estalo das estruturas de madeira sempre foram a trilha sonora dominante nos canteiros de obras brasileiros. Por décadas, a alvenaria reinou soberana, quase que um símbolo da nossa forma de construir. 

No entanto, um novo som, mais metálico e preciso, começou a ecoar, anunciando uma mudança silenciosa, mas profunda: a ascensão do Steel Frame. De uma alternativa vista com ceticismo, esse sistema construtivo leve e eficiente conquistou seu espaço, tornando-se uma tendência mainstream que está redefinindo o panorama da construção civil no país.

A jornada do Steel Frame no Brasil não foi um caminho pavimentado. Enfrentou, e ainda enfrenta, o desafio da desinformação, da falta de mão de obra especializada e de um mercado acostumado aos métodos tradicionais. 

Contudo, suas vantagens, alinhadas às crescentes demandas por sustentabilidade, agilidade e economia, têm se destacado e, hoje, o steel frame não é mais uma curiosidade para poucos, mas uma realidade em diversos tipos de obras, de residências a edifícios comerciais e industriais.

Início tímido: desafios e primeiras oportunidades

A chegada do Steel Frame ao Brasil remonta ao final da década de 1990 e início dos anos 2000. Influenciado por mercados maduros como o norte-americano e o europeu, o sistema aportou por aqui com a promessa de revolucionar a construção. 

No entanto, o cenário era desafiador. A construção civil brasileira, historicamente conservadora, resistia a inovações que fugissem do convencional. 

Um dos principais obstáculos era a carência de conhecimento. Engenheiros, arquitetos e, principalmente, a mão de obra especializada, não estavam familiarizados com as técnicas de montagem, os detalhes de projeto e as particularidades dos materiais. Isso gerava insegurança e, muitas vezes, inviabilizava a escolha do sistema. 

Além disso, a produção de perfis leves de aço, um dos componentes fundamentais do Steel Frame, era limitada no país, elevando custos e dificultando a logística. Apesar dos percalços, algumas empresas e profissionais visionários enxergaram o potencial do sistema. 

Os primeiros projetos, geralmente de pequeno porte ou em nichos específicos, serviram como laboratórios. Neles, foi possível testar a aplicabilidade do Steel Frame às condições climáticas brasileiras, adaptar técnicas e, mais importante, comprovar suas vantagens. Essas experiências pioneiras, embora discretas, foram cruciais para semear as primeiras sementes de confiança.

Fatores catalisadores da popularização

A virada para o Steel Frame começou a se desenhar com a convergência de diversos fatores, que atuaram como catalisadores para sua rápida evolução no Brasil.

Sustentabilidade e a construção a seco

Um dos pilares da ascensão do Steel Frame é a sua relação com a sustentabilidade. Em um mundo cada vez mais consciente da necessidade de reduzir o impacto ambiental, a construção a seco se destacou. 

Ao contrário da alvenaria, que gera grandes volumes de entulho e consome muita água, o Steel Frame minimiza o desperdício, recicla materiais e utiliza menos recursos hídricos no canteiro de obras.

A leveza das estruturas de aço permite fundações mais simples, reduzindo o consumo de concreto. A precisão na fabricação dos perfis diminui as perdas de material, e os resíduos gerados são, em grande parte, recicláveis. 

Além disso, a possibilidade de incorporar isolamento termoacústico de alta performance nas paredes e telhados do Steel Frame contribui para a eficiência energética das edificações, um atributo cada vez mais valorizado por construtoras e consumidores. 

Essa pegada ambiental mais leve fez do Steel Frame uma opção atraente para projetos com selos verdes e para um público que busca edificações mais ecologicamente corretas.

Evolução do Steel Frame no Brasil

Economia e agilidade

No início, a percepção de que o Steel Frame era um sistema caro era um entrave. No entanto, à medida que o mercado amadureceu e a produção nacional de componentes se intensificou, a economia se tornou um dos grandes atrativos. 

É importante frisar que a economia não se restringe apenas ao custo direto dos materiais. A agilidade na execução da obra, por exemplo, é um fator decisivo. Com o Steel Frame, o tempo de construção pode ser significativamente reduzido em comparação com os métodos tradicionais. 

A pré-fabricação de elementos e a montagem rápida no canteiro minimizam atrasos e permitem que a obra seja entregue em um prazo menor. Isso se traduz em economia de mão de obra, redução de custos indiretos de canteiro e, principalmente, em um retorno do investimento mais rápido para o empreendedor. 

Além disso, a menor geração de entulho e a limpeza do canteiro também contribuem para a redução de custos operacionais.

Qualidade e desempenho

A precisão dos perfis de aço, fabricados sob rigoroso controle de qualidade, garante uma uniformidade dimensional que é difícil de ser alcançada na construção em alvenaria. Isso se reflete em paredes mais retas, esquadros perfeitos e menos retrabalho, resultando em um acabamento de alta qualidade.

Outro ponto é que o Steel Frame oferece excelente desempenho estrutural. O aço galvanizado é resistente à corrosão e ao ataque de cupins, garantindo durabilidade à edificação. O sistema também permite a incorporação de isolamentos térmicos e acústicos eficientes, proporcionando maior conforto aos ocupantes e reduzindo o consumo de energia para a climatização. 

A resistência ao fogo, com a utilização de sistemas de proteção adequados, e a capacidade de suportar cargas sísmicas também são pontos fortes que agregam valor e segurança às construções em Steel Frame.

Regulamentação e normatização

A ausência de normas técnicas específicas para o Steel Frame no Brasil foi, por muito tempo, um obstáculo. A falta de um arcabouço regulatório gerava incerteza entre projetistas, construtores e órgãos fiscalizadores. 

Porém, o esforço conjunto de associações, universidades e empresas do setor resultou na criação de normas técnicas brasileiras, como a ABNT NBR 16868, que aborda o projeto e execução de edifícios de Light Steel Framing.

Essa normatização foi um marco na evolução do Steel Framing no Brasil. Ela trouxe segurança jurídica, padronizou processos, estabeleceu critérios de desempenho e, em última instância, conferiu legitimidade ao sistema. 

Com normas claras, o Steel Frame deixou de ser uma “alternativa experimental” e passou a ser reconhecido como um sistema construtivo seguro e confiável.

Profissionalização e capacitação

Com a crescente demanda, a necessidade de mão de obra especializada se tornou evidente. Universidades, escolas técnicas e as próprias empresas do setor investiram em cursos de capacitação e treinamento. 

Hoje, há uma oferta cada vez maior de profissionais qualificados em todas as etapas do processo, desde o projeto até a montagem e acabamento. Essa profissionalização contribuiu significativamente para a melhoria da qualidade das obras em Steel Frame e para a desmistificação do sistema.

Treinamento em Steel Frame

Steel Frame hoje: uma tendência consolidada

A evolução do Steel Framing no Brasil atingiu um ponto de inflexão. O que antes era nicho, agora é uma opção amplamente considerada em diversos segmentos da construção civil.

Versatilidade de aplicação

A versatilidade do Steel Frame é muito grande. De casas térreas e sobrados a edifícios de múltiplos andares, passando por escolas, hospitais, hotéis e galpões industriais, o sistema se mostra adaptável a diferentes necessidades e tipologias construtivas. 

Sua leveza o torna ideal para ampliações e reformas, sem sobrecarregar estruturas existentes. A rapidez de montagem é um diferencial para projetos que exigem agilidade, como construções modulares ou emergenciais.

Inovação e novas tecnologias

O avanço tecnológico também impulsiona o Steel Frame. O desenvolvimento de softwares de projeto específicos permite uma maior otimização do uso do aço e a geração de projetos mais precisos. 

A automação na fabricação dos perfis garante qualidade e agilidade na produção. Novas soluções em isolamento, revestimentos e sistemas de vedação estão constantemente surgindo, tornando as construções em Steel Frame ainda mais eficientes e confortáveis.

Mercado em expansão

Empresas nacionais e internacionais investem na produção de componentes e na oferta de serviços especializados. A concorrência saudável estimula a inovação, aprimora a qualidade e, consequentemente, impulsiona a adoção do sistema. 

O setor de construção a seco como um todo, impulsionado pelo Steel Frame, demonstra um crescimento constante e promissor.

Desafios futuros e o potencial do sistema construtivo 

Apesar da consolidação, a evolução do Steel Frame no Brasil ainda enfrenta desafios. A disseminação do conhecimento em todas as regiões do país, a ampliação da oferta de mão de obra qualificada e a desmistificação de alguns preconceitos ainda são pontos a serem trabalhados.

No entanto, o potencial do Steel Frame é imenso. A capacidade de customização, a liberdade arquitetônica e a durabilidade das construções em Steel Frame garantem que sua presença no mercado continue a crescer.

O Steel Frame deixou de ser uma promessa para se tornar uma realidade palpável. Sua evolução no Brasil é um testemunho da capacidade de inovação da construção civil e da aceitação de métodos que aliam tecnologia, sustentabilidade e economia. 

A antiga trilha sonora dos canteiros de obras ganhou novos acordes, e o futuro da construção no Brasil parece ser cada vez mais leve, rápido e eficiente, com o som do aço ecoando como um símbolo de progresso.

5º Congresso LATAM Steel Frame e Sistemas Industrializados